Soja avança sobre pastagens no leste de MT
Valor Econômico
08/11/2011
Por: Tarso Veloso | De Primavera do Leste (MT)
A cada dez caminhões que cortavam as estradas de terra da região leste do Estado de Mato Grosso em 2006, dez transportavam gado. Hoje, apenas cinco anos mais tarde, oito carregam insumos agrícolas e dois são boiadeiros. O leste do Estado, a nova fronteira agrícola mato-grossense, era até pouco tempo atrás, uma área de pecuária. Essa tradição, porém, está mudando.
Lentamente, as pastagens, principal característica da porção oriental do Estado, começam a dar espaço às lavouras. Os produtores estão apostando no plantio em detrimento da pecuária extensiva. A mudança na paisagem começa a ficar mais visível agora, com várias propriedades plantando pela primeira vez nesta safra. Grandes extensões de terra ainda com cercas e currais, marcantes na pecuária, estão agora trabalhando com soja.
Os pioneiros, porém, reclamam das dificuldades de iniciar um trabalho em uma região que, até pouco tempo atrás, dedicava-se exclusivamente a outra atividade. Natural de Santo Cristo, na região noroeste do Rio Grande do Sul, Canisio Froelich, dono do grupo Nativa, juntamente com seu irmão Romeu, critica a falta de mão de obra e a alta rotatividade, mas não desanima na hora de avaliar o potencial da região.
"A mão de obra é ruim nessa nova fronteira. A tecnologia evolui sempre, mas as pessoas no campo, às vezes, não sabem operar. Quando eles aprendem vão embora. Mesmo com esse problema, a região tem muito potencial", afirma ele. O grupo Nativa planta 40 mil hectares em sete fazendas e conta com mais de 250 funcionários.
Empolgado com o crescimento da agricultura no leste do Estado, Froelich define a atual situação da região. "Em dez anos, essa nova fronteira agrícola será uma das melhores do Estado para se produzir", acredita Froelich, que está abrindo 12 mil hectares em uma propriedade nova.
Na fazenda Anderson, no município de Água Boa, o proprietário, Valmor Giacomolle, diz que devido à necessidade de renovar seu pasto este ano, optou por plantar soja. "Vamos testar o retorno financeiro. Se for bom vamos continuar de vez". A previsão do proprietário é concluir o plantio até 20 de novembro nos 450 hectares.
Situação semelhante vive o produtor Carlos Alberto Petter, de 41 anos, dos quais 34 em Mato Grosso. Ele crê na tendência de transformação de pastagens em lavoura e decidiu seguir a trilha. Somente na sua propriedade foram 200 hectares convertidos.
"Só aqui na minha fazenda vou plantar 1 mil hectares. Da antiga criação de gado, me sobram 100 cabeças. As lavouras estão aumentando bem por aqui, tem muito pasto degradado que virou agricultura", diz. A migração para a agricultura começou com a renovação do solo, muito desgastado pela criação de gado. A solução, de acordo com Petter, foi preparar a área para o plantio. A conversão custou cerca de R$ 1 mil por hectare.
Após o vazio sanitário, de junho a setembro, quando é proibido plantar para evitar a disseminação do fungo da ferrugem, os produtores de Mato Grosso já podem ligar as plantadeiras para semear uma soja superprecoce e depois acelerar a colheita para deixar o solo disponível para a safrinha. O clima no leste, por enquanto, está ajudando o agricultor. Em algumas áreas, o volume de chuvas ainda não é o ideal, mas o plantio segue normalmente.
A mudança no sistema produtivo da região é comemorada pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja). "Vimos a transformação de pastagem em agricultura e sabemos que esse incremento não vai parar por aqui e vai seguir nos próximos anos", diz o gerente técnico da entidade, Nery Ribas.
As visitas realizadas pela Aprosoja nas propriedades da nova fronteira agrícola, de acordo com Ribas, deixaram claras as melhorias na região. "Pudemos constatar a inovação tecnológica, a expansão de área de soja em área de pastagem, a transformação de uma realidade, pudemos ver as pequenas comunidades, nos pequenos municípios vislumbrando o progresso e desenvolvimento com a chegada da soja", afirma o especialista.
Na avaliação do gerente técnico, a região ainda enfrenta algumas dificuldades. "A logística é difícil em algumas regiões por causa de estradas em péssimo estado, aumentando custos e diminuindo rentabilidade", diz.
Nas questões ambientais, continua, "o que se viu foi o apoio dos produtores ao Código Florestal. O produtor tem interesse nessa segurança jurídica por várias questões, para buscar crédito, garantias, e poder produzir com tranquilidade. Outro anseio grande do produtor é na área de tecnologia, tanto na biotecnologia como nas cultivares, não só no potencial produtivo, mas sim naquelas resistentes a pragas, doenças e nematoides".
O aumento da área plantada já se reflete na expectativa de produção. O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), ligado à federação da agricultura do Estado (Famato), estima uma área de 6,78 milhões de hectares plantados com soja nesta safra 2011/12, com estimativa de produção de 21,5 milhões de toneladas. Na temporada 2010/11, foram 6,41 milhões de hectares e 20,5 milhões de toneladas do grão. A safra de milho deve atingir 2 milhões de hectares plantados no atual ciclo, contra 1,7 milhão em 2010/11.
Mesmo com esse aumento de área plantada, ainda existem terras que podem ser convertidas de pasto para cultivo. De acordo com dados da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), há 25,7 milhões de hectares de área de pastagem no Estado, para um rebanho de 28,7 milhões de cabeças de gado. Outra fatia de 62% da área do Estado está ocupada com terras indígenas e Unidades de Conservação.
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